quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Cidade do México - De cidade mais poluída do mundo a exemplo de mobilidade sustentável

Cidade do México

De cidade mais poluída do mundo a exemplo de mobilidade sustentável

Revista Bicicleta por Anderson Ricardo Schörner 13/01/2014
Cidade do México
Foto: Divulgação
 
Após um crescimento desordenado, com indústrias dentro da cidade e muitos carros circulando, a Cidade do México alcançou o título de cidade mais poluída do mundo na década de 80.
Todos sofriam muito com a poluição, principalmente idosos e crianças. Haviam dias críticos em que não se podia sair para trabalhar, estudar, e era proibido qualquer atividade ao ar livre. Os níveis de poluição ultrapassavam em até quatro vezes as normas de proteção à saúde.



Em 1991, apenas em 11 dias a Cidade do México respirou ar com qualidade aceitável. A população começou a pressionar o governo cobrando medidas para combater este problema. Foi implantada uma série de iniciativas do chamado Plano Verde. Este plano pretende atender sete áreas-chave: espaço público, conservação do solo, abastecimento de água, transporte e mobilidade, reciclagem de resíduos, poluição atmosférica e energia.
Atualmente, a Cidade do México deixou o ranking das 10 cidades mais poluídas do mundo. O trânsito ainda é caótico, mas há quarteirões do centro que são exclusivamente para pedestres, e muitos mexicanos preferem isso.
O problema de poluição na capital mexicana é ainda mais agravado por sua localização geográfica. Como fica em um vale, a poluição encontra uma cadeia de montanhas ao sul, com altitude de 3.800 m, e não consegue se dispersar. A cidade também fica no alto, a 2.200 m de altitude, o que a deixa muito próxima da camada de poluentes que paira no ar. Além disso, por ficar longe do mar, tem 23% menos de oxigênio do que as cidades costeiras, como São Paulo.
Victor Hugo Paramo, diretor de gestão da qualidade do ar, relata que “quando se compara a qualidade do ar de hoje com a do início dos anos 90, percebe-se uma grande melhoria. Em termos de contaminantes, conseguimos controlar os níveis de chumbo, monóxido de carbono, óxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. No entanto, ainda temos problemas com material particulado e com ozônio.”
Os veículos são responsáveis por 80% das emissões de poluentes, e portanto, o trânsito é responsável direto do problema da poluição. Retirar estes veículos de circulação é combater o problema direto na fonte. Para isso, o governo estipulou um rodízio que funciona das cinco às 22 horas, em dois dias da semana e um sábado por mês. Os carros novos ganham dois anos livre do rodízio por serem menos poluentes.


Para estimular a troca de carros antigos, que poluem muito mais, o governo também criou um programa de substituição de frota. Os carros e ônibus antigos são destruídos e reciclados, e o governo financia a compra de um novo veículo ou paga pelo ferro velho. Para a empresa que faz o serviço de reciclagem o negócio é lucrativo e, acima de tudo, reciclável. A ideia é substituir 30 mil carros até o próximo ano.
Outra medida muito importante adotada na Cidade do México diz respeito às bicicletas: é a Ecobici, um programa de compartilhamento de bicicletas no centro da capital. Conforme afirma Tanya Muller, responsável pelo Ecobici, “este programa é uma ação que permite aos cidadãos terem acesso às bicicletas. Cerca de 50% de todas as viagens diárias na Cidade do México são menores que 8 km. Então a bicicleta é muito eficiente. Além disso, há compartilhamento da Ecobici com o metrô e com o Metrobus.”
Além de economizar com estacionamento, gasolina e ainda não poluir, trocar o carro pela bicicleta é muito mais rápido no caótico trânsito da Cidade do México. A cidade conta com 100 km de ciclovias permanentes e, aos domingos, das oito às 14 horas, mais 24 km são reservados exclusivamente para as bicicletas circularem pelo centro histórico da capital mexicana. São 90 estações distribuídas nos bairros da cidade.


Outra ação bastante importante na Cidade do México com relação à mobilidade é o Metrobus. São ônibus que circulam por corredores exclusivos e os carros não conseguem invadir este espaço, pois ele é separado por muretas de concreto. Enquanto o trânsito de veículos está parado, os ônibus circulam livremente, tornando o transporte público muito atrativo.
Segundo dados das autoridades mexicanas, a adoção do Metrobus, em 2005, contribui com a não emissão de 80 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, pois um único Metrobus substitui 60 carros particulares e para cada linha de Metrobus, 600 microônibus saem de circulação.
As vantagens do Metrobus fizeram a população mexicana preferir o transporte público e deixar o carro em casa. Por ser rápido e econômico, o Metrobus transporta 450 mil passageiros por  dia, em 50 km de extensão que cortam toda a cidade. Além disso, os mais de 200 km de metrô complementam as viagens de quem opta pelo Metrobus. “A ideia do Metrobus integrado é facilitar as viagens dos usuários, para reduzir o tempo de viagem. Mas o mais importante é que não usem os carros. Com o Metrobus, quase 15% dos usuários, cerca de 100 mil pessoas, já decidiram deixar o carro parado em casa. Mas a condição para que isso aconteça é ter um sistema público de qualidade”, conforme Guillermo Calderón, diretor do Metrobus.
Como a necessidade é a mãe da criatividade, quando a Cidade do México se viu no caos, e teve a necessidade de mudar, conseguiu implantar um sistema muito eficiente de transporte público e estimular os modais a pé e de bicicleta. As grandes cidades brasileiras já sofrem com a questão do trânsito pesado e da poluição e ainda há tempo de adotar medidas semelhantes às da Cidade do México - sem precisar sentir a ‘necessidade’ na pele. É mais vantajoso prevenir agora, enquanto ainda podemos respirar. E o puxão de orelha não é apenas para os governantes, que têm a missão de nos fornecer um transporte público de qualidade: cada cidadão tem, também, a responsabilidade de implantar a cultura da bicicleta e a cultura da não agressão ao meio ambiente.

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