Viaduto sobre o Cocó: o benefício é temporário, os transtornos vêm para ficar
Não são “apenas” 94 arvores, é o modelo e o projeto de cidade que vão
à contramão da preservação ambiental, da mobilidade urbana e da solução
de problemas sociais. A crítica deste texto se direciona amplamente à
política de transportes que se vem adotando em Fortaleza recentemente.
Entre 2001 e 2010, a frota de veículos automotivos individuais de
Fortaleza cresceu aproximadamente 90% (DENATRAN). Por que cresceu em
tamanha proporção? A resposta vai além da recente facilitação da compra
de automóveis. Infelizmente, dada a atual circunstância de precariedade
do transporte público, o carro particular é hoje, no Brasil, o
transporte mais eficaz. Ao se ofertar mais estrutura, como a Prefeitura
pretende, andar de carro continuará individualmente vantajoso e a
população continuará adquirindo tal bem em alta proporção.
O carro particular é o meio de transporte urbano mais ineficiente,
tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista técnico, pois
gera consideravelmente mais poluição e transtornos no espaço viário por
passageiro transportado do que qualquer outro modo de transporte. Dessa
forma, os problemas, equivocadamente solucionados com alargamento de
ruas e construções de viadutos, tendem a retornar em curto prazo. Essa é
a explicação para a máxima “construa (mais rodovias) que eles (carros)
virão”.
A construção de viadutos e túneis “vicia” a malha viária e traz a
necessidade de outras obras do mesmo tipo, pois intervenções pontuais só
transferem o problema para um ponto mais adiante, como é o caso do
viaduto da Av. 13 de Maio.
Lembramos que a sustentabilidade não está ligada somente à questão
ambiental, mas de continuidade de um modelo. E o modelo de transporte
individual demanda tanto investimento em infraestrutura viária, e estes
investimentos têm tantos efeitos colaterais (poluição visual, ambiental,
desvalorização de terrenos e do comércio, problemas com segurança
pública, etc), que se torna um modelo altamente insustentável e
antidemocrático, pois os investimentos favorecem apenas a pequena
parcela que utiliza carros.
Mas como limitar, ou mesmo emperrar, o crescimento da frota de
veículos automotores individuais para o movimento pendular (casa –
trabalho/estudo)? A resposta é clara: atacando as causas expostas no
segundo parágrafo. Isto é, tornando vantajoso para as pessoas a
utilização de outros modos de transporte, seja construindo ciclovias
arborizadas e iluminadas, a fim de mitigar os problemas de desconforto
térmico e de violência (importantes empecilhos para o investimento em
ciclovias), seja aumentando a frota de ônibus e de seus espaços
exclusivos, tornando mais vantajoso o uso do transporte público e das
ciclovias em relação ao uso de carros individuais, favorecendo também o
pedestre.
O carro deveria ser um veiculo para lazer e passeio – assim como o é
em qualquer cidade verdadeiramente desenvolvida – mas Fortaleza parece
caminhar no sentido oposto ao do desenvolvimento e progresso. A solução
de fluência de tráfego pelo uso de viadutos, assim como toda prática que
insiste em aumentar a oferta de espaço para veículos individuais
automotivos, já é rejeitada nos modelos de sucesso de mobilidade urbana
de todo o mundo.
Baseado nos princípios de sustentabilidade ambiental, urbana, social,
no Plano Diretor de Fortaleza, no Plano Nacional de Mobilidade e na lei
Federal 9.985, o Centro Acadêmico de Engenharia Civil da UFC,
com o propósito de defender as boas práticas de engenharia e a qualidade
de vida de toda população, posiciona-se contra o projeto do viaduto da
Av. Antônio Sales com Av. Engenheiro Santana Júnior, e se une às demais
entidades estudantis e da sociedade civil para propor uma melhor solução
para o problema. Solução essa que contemple os critérios supracitados.
Documento aprovado por unanimidade pelos atuais membros diretores do Centro Acadêmico de Engenharia Civil
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