sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Mobilidade urbana e o viaduto do cruzamento da Av. Antônio Sales com Av. Eng. Santana Jr.

Viaduto sobre o Cocó: o benefício é temporário, os transtornos vêm para ficar

Não são “apenas” 94 arvores, é o modelo e o projeto de cidade que vão à contramão da preservação ambiental, da mobilidade urbana e da solução de problemas sociais. A crítica deste texto se direciona amplamente à política de transportes que se vem adotando em Fortaleza recentemente.

Entre 2001 e 2010, a frota de veículos automotivos individuais de Fortaleza cresceu aproximadamente 90% (DENATRAN). Por que cresceu em tamanha proporção? A resposta vai além da recente facilitação da compra de automóveis. Infelizmente, dada a atual circunstância de precariedade do transporte público, o carro particular é hoje, no Brasil, o transporte mais eficaz. Ao se ofertar mais estrutura, como a Prefeitura pretende, andar de carro continuará individualmente vantajoso e a população continuará adquirindo tal bem em alta proporção.

O carro particular é o meio de transporte urbano mais ineficiente, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista técnico, pois gera consideravelmente mais poluição e transtornos no espaço viário por passageiro transportado do que qualquer outro modo de transporte. Dessa forma, os problemas, equivocadamente solucionados com alargamento de ruas e construções de viadutos, tendem a retornar em curto prazo. Essa é a explicação para a máxima “construa (mais rodovias) que eles (carros) virão”.

A construção de viadutos e túneis “vicia” a malha viária e traz a necessidade de outras obras do mesmo tipo, pois intervenções pontuais só transferem o problema para um ponto mais adiante, como é o caso do viaduto da Av. 13 de Maio.

Lembramos que a sustentabilidade não está ligada somente à questão ambiental, mas de continuidade de um modelo. E o modelo de transporte individual demanda tanto investimento em infraestrutura viária, e estes investimentos têm tantos efeitos colaterais (poluição visual, ambiental, desvalorização de terrenos e do comércio, problemas com segurança pública, etc), que se torna um modelo altamente insustentável e antidemocrático, pois os investimentos favorecem apenas a pequena parcela que utiliza carros.

Mas como limitar, ou mesmo emperrar, o crescimento da frota de veículos automotores individuais para o movimento pendular (casa – trabalho/estudo)? A resposta é clara: atacando as causas expostas no segundo parágrafo. Isto é, tornando vantajoso para as pessoas a utilização de outros modos de transporte, seja construindo ciclovias arborizadas e iluminadas, a fim de mitigar os problemas de desconforto térmico e de violência (importantes empecilhos para o investimento em ciclovias), seja aumentando a frota de ônibus e de seus espaços exclusivos, tornando mais vantajoso o uso do transporte público e das ciclovias em relação ao uso de carros individuais, favorecendo também o pedestre.

O carro deveria ser um veiculo para lazer e passeio – assim como o é em qualquer cidade verdadeiramente desenvolvida – mas Fortaleza parece caminhar no sentido oposto ao do desenvolvimento e progresso. A solução de fluência de tráfego pelo uso de viadutos, assim como toda prática que insiste em aumentar a oferta de espaço para veículos individuais automotivos, já é rejeitada nos modelos de sucesso de mobilidade urbana de todo o mundo.

Baseado nos princípios de sustentabilidade ambiental, urbana, social, no Plano Diretor de Fortaleza, no Plano Nacional de Mobilidade e na lei Federal 9.985, o Centro Acadêmico de Engenharia Civil da UFC, com o propósito de defender as boas práticas de engenharia e a qualidade de vida de toda população, posiciona-se contra o projeto do viaduto da Av. Antônio Sales com Av. Engenheiro Santana Júnior, e se une às demais entidades estudantis e da sociedade civil para propor uma melhor solução para o problema. Solução essa que contemple os critérios supracitados.

Documento aprovado por unanimidade pelos atuais membros diretores do Centro Acadêmico de Engenharia Civil

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